segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Memorial cursita Gestar II \professora Maria das Graças de Sá Cavalcante de Nova Alvorada do Sul MS.

                                             QUEM SOU...

Sou nordestina com muita honra. Nasci num sítio no município de São José do Belmonte-PE. A mais velha de três irmãos. A minha primeira escola era em minha casa, com uma professora particular que o meu pai pagava para nós três, por não haver uma escola por perto. Depois é que conseguiu criar uma escola pelo município que continuou sendo em casa.
Meu pai tinha somente o 2º ano primário, mas naquela época valia por mais e era inspetor escolar municipal (que depois ficou sendo supervisor). Ele fiscalizava as escolas e professores da zona rural pra ver se estavam dando aula certinho e fazia perguntas, tanto ao professor como aos alunos.
  Aprendia ler bem rápido, tanto eu como meus irmãos. Era no tempo da carta de ABC, tivemos que aprender a ler todas as letras, depois todas as sílabas e em seguida formar palavras. Era na base da palmatória, se não aprendesse, levava “bolo” de palmatória.
 Na época não tinha livros assim como tem hoje. Era um livrinho só de Português com umas perguntas sobre o texto. Nele não havia gramática, isso eu fui vendo depois.
        Estudei até a 4ª série primária nessa escola e fui pra cidade. Antes de entrar no ginásio tinha um livro grosso que era o chamado de livro de admissão, mas quem passasse numa prova que tinha as matérias desse livro, não precisava passar por ele, eu fiz e passei. Fui pra 1ª série e até a 4ª série ginasial que depois ficou sendo chamada de 8ª e hoje é 9º ano.
    Lembro-me que estudava em livros de segunda mão, comprados ou doados de outros alunos que foram para outra série. A gente usava os livros com muito cuidado para que ele continuasse limpo, sem rasuras para que outra pessoa quisesse.
    Quando criança, não tinha muito acesso a livros, isso veio a acontecer já na minha adolescência, como já morava na cidade e na escola tinha uma biblioteca com um acervo bem razoável. Nosso “socorro” era a enciclopédia BARSA, lá encontrávamos tudo que queríamos.
    A professora de Português, às vezes, lia uns livros na sala, mas eu não gostava, achava aquilo muito cansativo, enjoativo. Eu pensava que ela estava enrolando a aula.
      Sempre gostei de ler. Devorava os romances de “Sabrina”, de “Bárbara Cartland”, a revista em quadrinhos, chamada “Sétimo Céu” e “Capricho” que eram as melhores da época. Os clássicos da literatura, Poliana Menina e Poliana Moça e muitos outros. Estava sempre lendo alguma coisa e comentava com minha professora de Português que me elogiava diante dos colegas e eu ficava muito orgulhosa disso.  Daí comece ia  gostar de Português, porque quem ler bastante adquire essa facilidade de escrever corretamente. Mas tenho um trauma do livro “Os Lusíadas” de Luís de Camões, que a professora mandou ler e interpretar, que coisa mais chata e difícil de se entender.
      Por falta de opção de outros cursos em minha cidade (tinha Contabilidade, Científico = igual ao colegial e Magistério), fiz o magistério e já comecei a dar aulas nesses mesmos cursos.        Concluí o Magistério em 1975 e somente em 1985 é que pude fazer vestibular. Além de meu pai não ter condições de pagar, eu não tinha emprego. Mas como eu não parei de ler, estudava pra planejar minhas aulas e passei em 4º lugar no curso de Letras. Fiquei surpresa, porque a minha prova de Inglês eu não sabia nada, foi no “papai do céu mandou dizer...” mesmo.
Fiz aquele financiamento pela caixa, que não me lembro do nome, hoje é FIES e concluí minha faculdade que era em outra cidade e ainda ganhava o transporte numa “bolsa” que a prefeitura dava para alguns funcionários. Não era de ônibus, era em uma caminhote C10, velha a diesel, com capota de plástico, (que saía muita fumaça pelo cano de escape), com uns bancos de madeira, pregados na carroceria, onde transportava duas pessoas na cabine (fazia rodízio) e mais doze, quinze em cima. Alguns tinham que se sentar com as pernas penduradas pra fora porque dentro não cabia. Só no último ano que foi de buzão.
       Houve uma época que só dava aulas para o Magistério e as classes eram só meninas,  fazíamos muitas festas e íamos excursão no final do ano para Fortaleza, Natal, Maceió, Recife, João Pessoa , Salvador, etc. Era muito legal e divertido. Guardo boas lembranças desse tempo. Hoje com a evolução da internet, nos encontramos no Orkut e no Facebook,batemos longos papos e é muito gratificante quando muitas dizem se lembrar de mim, de como eu era em sala de aula, de nossas brincadeiras, de minhas piadas. Fico feliz em saber que não me esqueceram assim tão rápido.
   Em fevereiro de 1991, revi um rapaz, que já conhecia porque é meu primo, estava desquitado e foi passear em minha cidade, começamos a namorar, em abril eu vim conhecer o lugar onde ele morava e seus filhos, em junho, ficamos noivos, em setembro, ele foi à minha cidade, nos casamos e viemos embora. Em 1993, nasceu meu filho, hoje com dezessete anos. Sou muito feliz com meu filho, com os meus filhos e netos de coração, enfim, com minha família.
   Comecei a dar aulas aqui na zona rural em fevereiro de 1991 e em 1997 vim para a escola onde estou até hoje.
    Em 1995, fiz um projeto de construção de poemas em sala de aula e já estamos na nossa sexta edição. Os alunos adquiriram o gosto pela poesia e quando a gente começa, chega tanto poema que tenho que falar que já encerrei,  do contrário, não param de chegar os poemas. Pois os pais ficam felizes quando recebem o livro e veem o poema de seu filho lá, publicado, é um orgulho para eles.
     Em 2009, após o aparecimento do acordo ortográfico, eu, com meus alunos de 8º ano, fizemos dois gibis, um a com a acentuação gráfica e outro com o uso do hífen. Baixamos na internet, um gibi da Turma da Mônica adolescente com uma história, usamos um programa que apaga, com os mesmos personagens criamos uma outra história com a reforma ortográfica. Ficou muito legal, as pessoas gostaram, até as escola pediram cópias e nós enviamos pra todas elas.
    Em 2010, aproveitando os temas vivenciados em sala de aula, nas aulas de Educação religiosa (que também dou aulas), criamos umas histórias envolvendo Bullying, Pedofilia, Imprudência no Trânsito, Gravidez na Adolescência, Os perigos da Internete com outro programa, também da internet, montamos um gibi colorido com essas histórias que também foi um sucesso.  Esses trabalhos são expostos em nossa feira cultural que é aberta ao público, com data fixa, que já se tornou tradição em nossa escola, no dia 14 de novembro.
      Em 2010, participei da Olimpíada de Língua Portuguesa. O texto de memórias de uma aluna do 8º ano foi selecionado, fomos pra Belo Horizonte onde ficamos como finalistas e depois para a final em Brasília. Não fomos vencedoras, mas representamos a nossa cidade e o nosso Estado a nível nacional. Foi um orgulho pra todos nova-alvoradenses.
     É muito bom trabalhra na minha escola. Nós temos apoio e incentivo da diretora e coordenadoras e isso nos estimula a estar sempre fazendo alguma coisa diferente.
   Hoje está tudo diferente, há facilidade em tudo. Livros com interpretação de texto com mais objetividade, com mais clareza. Todos leem de tudo, pra todo mundo, há uma infinidade de gêneros literários.  Só que apesar de tanta facilidade, o aluno é muito preguiçoso pra ler e por isso tem dificuldade. Há alunos que têm vergonha de ler porque não sabem e não é falta de prática, é de interesse mesmo pela leitura.
Gosto do que faço e não me vejo fazendo outra coisa. Este ano eu encerro minha carreira, mas sei que vou sentir muita falta desse contato com meus alunos e com as pessoas com as quais convivo, mas já estou precisando descansar e viver mais um pouco perto de meu marido, de minha família, pois não sei quanto tempo me resta ainda e tenho que aproveitá-lo ao lado das pessoas que amo e que sei que me amam também.
                 Professora: Maria das Graças de Sá Cavalcante
                                       Nova Alvorada do Sul-MS




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