Poéticos MomentosEntre os ramos floridos do jasmimSinto o corpo abraçado na natura;Cada verso demonstra arquiteturaDa paisagem que brota sobre mim.Colibris parecendo um querubimSão poemas da máxima ternura,Que dão beijos com plácida doçuraOnde os tons dos sentidos não têm fim.Um delírio nas flores do meu peitoDeixa o corpo num estado rarefeitoNa colina do verso em transcendência.As abelhas dos cantos, no vergel,Jogam pingos cristais do doce melSobre as pétalas da minha existência.Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. RUBENS ALVES
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Imprevisível
Minha poesia não procura as auroras,
Sempre busca da noite o imprevisível,
Mesmo que o seu fulgor seja impossível
Ou que o brilho se acabe em poucas horas.
Quando brotam do peito algumas floras
Que são versos dum mundo invisível,
Eu me perco num Ser perceptível
Que se esvai dos sentidos sem demoras.
Sem saber muito certo sobre mim,
Eu caminho na estrada sem ter fim...
O sensível não me mostra uma meta.
E perdido nas retas da certeza
Me confundo nas curvas da incerteza
Só sentindo, apenas, ser poeta.
Gestar 2011.
Visão do Coração
Na dureza da rocha vejo a flor
E nas noites percebo as auroras
Nos espinhos encontro o tom das floras
E no pranto descubro a luz do amor.
Entre as réstias do riso vejo a dor
Num ocaso de vidas mundo afora,
E percebo o sertão na voz canora
Quando o verso revela o cantador.
Sob a pedra vejo um veio cristalino,
E no mundo, percebo a luz menino,
Espargindo esperança na escuridão.
E nas curvas sem planos do invisível,
Todo dia eu descubro um Ser sensível,
Aumentando a visão do coração.
Tutora Amirleni: 2011
NO MUNDO EM QUE VIVEMOS
REINA SOBERANA A VIOLÊNCIA
VIDAS SÃO CEIFADAS
SEM NENHUMA CLEMÊNCIA
HOMENS FAZEM O MAL
DE MANEIRA BEM BANAL
NÃO USANDO A PRUDÊNCIA
A BANALIDADE DOS CRIMES
É GERADO PELA IMPUNIDADE
QUE REGE O CÓDIGO PENAL
DE NOSSA SOCIEDADE
E ASSIM VIVE O BRASIL
DE MANEIRA BEM HOSTIL
SEM JUDICIÁRIO DE QUALIDADE
SÓ NOS RESTA REZAR
E A DEUS PEDIR PERDÃO
PELOS MALEFÍCIOS DA HUMANIDADE
QUE NÃO TEM AMOR NO CORAÇÃO
VIVENDO NA CRIMINALIDADE
NÃO RESPEITANDO A SOCIABILIDADE
DE TODA UMA NAÇÃO
AOS POLÍTICOS DESSE PAÍS
PEÇO A SUA ATENÇÃO
VAMOS REVER NOSSO CÓDIGO
EM RESPEITO A POPULAÇÃO
USANDO A CONSCIÊNCIA
E VOTANDO COM COERÊNCIA
AS LEIS DA LEGISLAÇÃO
AUTOR DO TEXTO: JATÃO
REINA SOBERANA A VIOLÊNCIA
VIDAS SÃO CEIFADAS
SEM NENHUMA CLEMÊNCIA
HOMENS FAZEM O MAL
DE MANEIRA BEM BANAL
NÃO USANDO A PRUDÊNCIA
A BANALIDADE DOS CRIMES
É GERADO PELA IMPUNIDADE
QUE REGE O CÓDIGO PENAL
DE NOSSA SOCIEDADE
E ASSIM VIVE O BRASIL
DE MANEIRA BEM HOSTIL
SEM JUDICIÁRIO DE QUALIDADE
SÓ NOS RESTA REZAR
E A DEUS PEDIR PERDÃO
PELOS MALEFÍCIOS DA HUMANIDADE
QUE NÃO TEM AMOR NO CORAÇÃO
VIVENDO NA CRIMINALIDADE
NÃO RESPEITANDO A SOCIABILIDADE
DE TODA UMA NAÇÃO
AOS POLÍTICOS DESSE PAÍS
PEÇO A SUA ATENÇÃO
VAMOS REVER NOSSO CÓDIGO
EM RESPEITO A POPULAÇÃO
USANDO A CONSCIÊNCIA
E VOTANDO COM COERÊNCIA
AS LEIS DA LEGISLAÇÃO
AUTOR DO TEXTO: JATÃO
NORDESTE!!! MINHA TERRA.
POR DO SOL NO SERTÃO
SOU AQUI DO SERTÃO
CABOCLO ARROCHADO
ADORO ESSE CHÃO
POR ELE SOU DOMINADO
COMO FEIJÃO COM FARINHA
GOSTO DE LEITE COALHADO
CABOCLA SE FOR BONITA
NÓ SE FOR APERTADO
CARROÇA DE BOTAR LENHA
CAVALO BEM ARREADO
UM CACHORRO BOM DE CAÇA
E UM JUMENTO AZOUGADO
GOSTO DO BOM AGUARDENTE
E DE COMER PEIXE ASSADO
TOMAR BANHO DE AÇUDE
E CORRER ATRÁS DE GADO
DE RAPADURA COM FARINHA
PARA ACOMPANHAR O GUISADO
DE MOCOTÓ DE BOI
NUM FOGÃO A LENHA COZINHADO
NO ALPENDRE DA FAZENDA
FICO NUMA REDE DEITADO
OLHANDO O SOL SE POR
COM O CÉU ENEVOADO
TOMO LEITE NO CURRAL
ANTES DO SOL TER RAIADO
MONTO NO MEU CAVALO
QUE TEM NOME DE XAXADO
CHAPÉU DE COURO E GIBÃO
TENHO O MEU GUARDADO
PRÀ CORRER ATRÁS DE BOI
DENTRO DO MATO FECHADO
SEIS VACAS HOLANDESAS
E UM TOURO ESPANTADO
TRÊS NOVILHAS AMARELAS
TA NO CURRAL CONFINADO
E O PROGRAMA DA RÁDIO
TEM UM BEM ARRETADO
É O FORRÓ E VAQUEJADA
QUE POR JATÃO É APRESENTADO
CABOCLO ARROCHADO
ADORO ESSE CHÃO
POR ELE SOU DOMINADO
ESSE É O MEU NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
COMO FEIJÃO COM FARINHA
GOSTO DE LEITE COALHADO
CABOCLA SE FOR BONITA
NÓ SE FOR APERTADO
SOU AQUI DO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
CARROÇA DE BOTAR LENHA
CAVALO BEM ARREADO
UM CACHORRO BOM DE CAÇA
E UM JUMENTO AZOUGADO
TEM AQUI NO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
GOSTO DO BOM AGUARDENTE
E DE COMER PEIXE ASSADO
TOMAR BANHO DE AÇUDE
E CORRER ATRÁS DE GADO
NA VAQUEJADA DO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
DE RAPADURA COM FARINHA
PARA ACOMPANHAR O GUISADO
DE MOCOTÓ DE BOI
NUM FOGÃO A LENHA COZINHADO
NA CASA DE TAIPA DO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
NO ALPENDRE DA FAZENDA
FICO NUMA REDE DEITADO
OLHANDO O SOL SE POR
COM O CÉU ENEVOADO
VOCÊ VER ISSO NO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
TOMO LEITE NO CURRAL
ANTES DO SOL TER RAIADO
MONTO NO MEU CAVALO
QUE TEM NOME DE XAXADO
ACORDANDO CEDO NO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
CHAPÉU DE COURO E GIBÃO
TENHO O MEU GUARDADO
PRÀ CORRER ATRÁS DE BOI
DENTRO DO MATO FECHADO
NA CAATINGA DO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
SEIS VACAS HOLANDESAS
E UM TOURO ESPANTADO
TRÊS NOVILHAS AMARELAS
TA NO CURRAL CONFINADO
É REBANHO DO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
E O PROGRAMA DA RÁDIO
TEM UM BEM ARRETADO
É O FORRÓ E VAQUEJADA
QUE POR JATÃO É APRESENTADO
É ALEGRIA NO NORDESTE
TERRA QUE FUI CRIADO
TERRA QUE FUI CRIADO
TEXTO: JATÃO
A LIDA DO VAQUEIRO NORDESTINO
QUANDO O BOI PARA NA CANCELA
TEXTO: JATÃO VAQUEIRO
( Cordelista do Ceara )
O JUMENTO É NOSSO IRMÃO
JÁ DIZIA LUIZ GONZAGA
"QUE O JUMENTO É NOSSO IRMÃO"
E ISSO É VERDADEIRO
COMO ELE DIZ NO BORDÃO
ATÉ DE BEBO É COMPANHEIRO
SUBINDO A TROTE LIGEIRO
SEJA QUAL FOR A SITUAÇÃO
SE O BEBO CAI NA RUA
ELE ESTAR ALI DO LADO
ACOMPANHANDO SEU DONO
SEMPRE COM MUITO CUIDADO
SEJA DEITADO NA CALÇADA
OU NO MEIO DA ESTRADA
ONDE ELE TENHA TOMBADO
O JUMENTO CARREGOU JESUS
O NOSSO SALVADOR
E POR ISSO É RESPEITADO
AQUI NO NOSSO INTERIOR
SEJA ELE CAMBITEIRO
Ô MESMO CARROCEIRO
A GENTE TRATA COM AMOR
QUEM NUNCA VIU NO SERTÃO
UM JUMENTO COM CAÇOAR
CARREGANDO FARINHA
PRÀ O SEU DONO ARMAZENAR
NA ÉPOCA DA FARINHADA
É GRANDE A TRABALHADA
QUE O JUMENTO DAR
E COM ANCORETAS DÀGUA
VOCÊ JÁ VIU NO SERTÃO?
CARREGANDO NO LOMBO
ÁGUA DO CACIMBÃO
PRÀ OS POTES DA COZINHA
DE MANHÃ E DE TARDEZINHA
PRÀ ELE NÃO TEM HORA NÃO
CABOCLO ESSA É A SINA
DO JUMENTO NORDESTINO
TRABALHA DE SOL A SOL
ESSE É O SEU DESTINO
FORTE COMO UM DRAGÃO
BRABO COMO UM LEÃO
MAIS DOMADO POR UM MENINO
"QUE O JUMENTO É NOSSO IRMÃO"
E ISSO É VERDADEIRO
COMO ELE DIZ NO BORDÃO
ATÉ DE BEBO É COMPANHEIRO
SUBINDO A TROTE LIGEIRO
SEJA QUAL FOR A SITUAÇÃO
SE O BEBO CAI NA RUA
ELE ESTAR ALI DO LADO
ACOMPANHANDO SEU DONO
SEMPRE COM MUITO CUIDADO
SEJA DEITADO NA CALÇADA
OU NO MEIO DA ESTRADA
ONDE ELE TENHA TOMBADO
O JUMENTO CARREGOU JESUS
O NOSSO SALVADOR
E POR ISSO É RESPEITADO
AQUI NO NOSSO INTERIOR
SEJA ELE CAMBITEIRO
Ô MESMO CARROCEIRO
A GENTE TRATA COM AMOR
QUEM NUNCA VIU NO SERTÃO
UM JUMENTO COM CAÇOAR
CARREGANDO FARINHA
PRÀ O SEU DONO ARMAZENAR
NA ÉPOCA DA FARINHADA
É GRANDE A TRABALHADA
QUE O JUMENTO DAR
E COM ANCORETAS DÀGUA
VOCÊ JÁ VIU NO SERTÃO?
CARREGANDO NO LOMBO
ÁGUA DO CACIMBÃO
PRÀ OS POTES DA COZINHA
DE MANHÃ E DE TARDEZINHA
PRÀ ELE NÃO TEM HORA NÃO
CABOCLO ESSA É A SINA
DO JUMENTO NORDESTINO
TRABALHA DE SOL A SOL
ESSE É O SEU DESTINO
FORTE COMO UM DRAGÃO
BRABO COMO UM LEÃO
MAIS DOMADO POR UM MENINO
TEXTO: JATÃO VAQUEIRO
( Cordelista do Ceara )
A VIOLÊNCIA EM NOSSA SOCIEDADE
A VIOLÊNCIA SE ALASTRA
EM NOSSA COMUNIDADE
TRAZENDO DOR E REVOLTA
A NOSSA SOCIEDADE QUE NÃO AGUENTA MAIS O SOFRIMENTO DOS PAIS AQUI DE NOSSA CIDADE VIDAS SÃO CEIFADAS SEM NENHUMA PIEDADE DE MANEIRA BRUTAL COM REQUINTES DE CRUELDADE DEIXANDO A POPULAÇÃO A FAZER INDAGAÇÃO SOBRE TAMANHA MALDADE NÃO SE RESPEITA A VIDA QUE É UM BEM DIVINO VIVEMOS ENCURRALADOS COM MEDO DO DESTINO E DA MARGINALIDADE QUE IMPERA NA CIDADE COM ESSE ÓDIO FERINO OS NOSSOS JOVENS NOS DEIXAM PREOCUPADOS QUANDO NÃO É A BEBIDA PELO TRÁFICO SÃO ALICIADOS SE TORNANDO DEPENDENTES AS VEZES INTRANSIGENTES SENDO DO BEM DESVIADOS A NOSSA SOCIEDADE CLAMA POR JUSTIÇA E PAZ É HORA DAS AUTORIDADES SEREM BEM MAIS CAPAZ NA BUSCA DE UMA SOLUÇÃO PRÀ RESOLVER A SITUAÇÃO DE MANEIRA EFICAZ
QUEM SOFRE COM TUDO ISSO
É A FAMÍLIA DESOLADA QUE NÃO TEM MAIS NO LAR A PAZ TÃO DESEJADA POR FALTA DE SEGURANÇA E SEM NENHUMA ESPERANÇA TEM A VIDA LIMITADA AS CIDADES DO INTERIOR ERAM BOAS DE SE MORAR HOJE A VIOLÊNCIA DOMINA COMO EM QUALQUER LUGAR E NO CAMPO OU NA CIDADE NÃO TEM MAIS TRANQUILIDADE AONDE QUER QUE VOCÊ VÁ VOU LHE PERGUNTAR ME RESPONDA MEU PATRÃO SE É VERDADE O QUE DIZ NESSE CORDEL O JATÃO? O NOSSO POVO PADECE COM ISSO QUE ACONTECE EM NOSSA REGIÃO TEXTO: JATÃO VAQUEIRO
Mãe preta, Patativa do Assaré
As rugas no rosto do já idoso Mestre Patativa do Assaré são como os sulcos da terra nos períodos de secas...
Tempos atrás, li no blog da amiga SAM este poema-oração de um filho a sua mãe prêta (aquela que nos cuidou com todo carinho e nos enebriou com sua histórias de princesas, rainhas, assombrações e de bichos mansos e também aqueles mais ariscos que, cuidadosamente, nos recomendava atenção.
Patativa do Assaré nos comovecom sua poesia tão singela e ao mesmo tempo forte e de tamanha abrangência - perpassa toda a trajetória da nossa vida - retrata os Ritos de Passagem em todos os seus aspectos: nascimento, meninice, adolescência, juventude, fase adulta e finalmente, a morte. E todos estes ritos são acompanhados dos ensinamentos que vamos recebendo em cada fase da vida e, preservando: o seio materno, as canções de ninar, as brincadeiras, os prazeres, as dores, o distanciamento e finalmente a separação...
Cada um de nós teve suas mães pretas... àquelas que nos encorajavam a enfrentar os medos e as dores. Na ocasião em que reli o poema fiquei completamente comovida com a lembrança da amiga SAM, de nos trazer Patativa do Assaré, por este motivo decidi colocá-lo aqui, neste mês de mães e marias... Somos todas marias, marias, marias, mulheres, mulheres, mulheres - as detentoras da sabedoria oral, aquelas que não precisam de assinaturas nem carimbos. Afinal, foram elas que ensinaram nosso poeta, Patativa do Assaré, acompor e cantar...
O poema dedicado a mãe preta nos envolve a todos: precorre a infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice e, finalmente... a morte - esté último ritual porque passamos e que, talqual o nascimento é totalmente individual e solitário. É também emocionante como Patativa elabora a relação homem x natureza. A primeira e a última estrofes centralizam, anunciam, sintetizam e enceram a narrativa do poema: coisa de MESTRE, Patativa do Assaré.
Mãe Preta
O coração do inocente,
É como a terra estrumada,
Qui a gente pranta a simente
E a mesma nace corada,
Lutrida e munto viçosa.
Na nossa infança ditosa,
Quando o amô e a simpatia
Toma conta da criança,
Esta sodosa lembrança
Vai batê na cova fria.
É como a terra estrumada,
Qui a gente pranta a simente
E a mesma nace corada,
Lutrida e munto viçosa.
Na nossa infança ditosa,
Quando o amô e a simpatia
Toma conta da criança,
Esta sodosa lembrança
Vai batê na cova fria.
Quem pela infança passou,
O meu dito considera,
Eu quero, com grande amô,
Dizê Mãe Preta quem era.
- Mãe Preta dava a impressão
Da noite de iscuridão,
com seus mistero profundo,
Iscondendo seus praneta;
Foi ela a preta mais preta
Das preta qui eu vi no mundo.
O meu dito considera,
Eu quero, com grande amô,
Dizê Mãe Preta quem era.
- Mãe Preta dava a impressão
Da noite de iscuridão,
com seus mistero profundo,
Iscondendo seus praneta;
Foi ela a preta mais preta
Das preta qui eu vi no mundo.
Mas porém, sua arma pura,
Era branca como a orora,
E tinha a doce ternura
Da Virge Nossa Senhora.
Quando amanhecia o dia,
Pra minha rede ela ia
Dizendo palavra bela;
Pra cuzinha me levava
E um cafezim eu tomava
Sentado no colo dela
Era branca como a orora,
E tinha a doce ternura
Da Virge Nossa Senhora.
Quando amanhecia o dia,
Pra minha rede ela ia
Dizendo palavra bela;
Pra cuzinha me levava
E um cafezim eu tomava
Sentado no colo dela
Quando as minha brincadêra
Causava contrariedade
A minha mãe verdadêra
Com a sua otoridade,
As vez brigava comigo
E num gesto de castigo,
Botava os óio pra mim,
Mas porém, não me batia,
Somente pruque sabia
Qui mãe preta achava ruim
Causava contrariedade
A minha mãe verdadêra
Com a sua otoridade,
As vez brigava comigo
E num gesto de castigo,
Botava os óio pra mim,
Mas porém, não me batia,
Somente pruque sabia
Qui mãe preta achava ruim
Por isso eu não tinha medo,
Sempre contente vivia
Mexendo nos meus brinquedo
E fazendo istripolia.
Dentro de nossa morada,
Pra mim não fartava nada,
O meu mundo era Mãe Preta;
Foi ela quem me ensinou
Muntas cantiga de amô,
E brincá de carrapeta
Sempre contente vivia
Mexendo nos meus brinquedo
E fazendo istripolia.
Dentro de nossa morada,
Pra mim não fartava nada,
O meu mundo era Mãe Preta;
Foi ela quem me ensinou
Muntas cantiga de amô,
E brincá de carrapeta
Se as vez eu brincando tava
De barbuleta a pegá,
E impaciente ficava
Inraivicido a chorá,
Ela com munta alegria,
Um certo jeito fazia,
Com carinho e com amô,
Apanhava as barbuleta;
Foi ela uma santa preta,
Que o mundo de Deus criou
E impaciente ficava
Inraivicido a chorá,
Ela com munta alegria,
Um certo jeito fazia,
Com carinho e com amô,
Apanhava as barbuleta;
Foi ela uma santa preta,
Que o mundo de Deus criou
Se chegava a noite iscura
Com seus negrume sem fim,
Ela com toda ternura,
Chegava perto de mim
Uma coisa cochichava
E depois qui me bejava,
Me levava pra dromida
Sobre os seus braços lustroso.
Aquilo sim, era gozo,
Aquilo sim, era vida
Com seus negrume sem fim,
Ela com toda ternura,
Chegava perto de mim
Uma coisa cochichava
E depois qui me bejava,
Me levava pra dromida
Sobre os seus braços lustroso.
Aquilo sim, era gozo,
Aquilo sim, era vida
E despois de me deitá
Na minha pequena rede,
Balançava devagá
Pra não batê na parede,
Contando estes lindos verso
Qui neste grande universo
Ôtros mais belo não vi,
E enquanto ela balançava
E estes versinho cantava,
Eu percurava dromi
Na minha pequena rede,
Balançava devagá
Pra não batê na parede,
Contando estes lindos verso
Qui neste grande universo
Ôtros mais belo não vi,
E enquanto ela balançava
E estes versinho cantava,
Eu percurava dromi
- Dorme, dorme, meu menino,
Já chegou a escuridão,
A treva da noite escura
Está cheia de papão
Já chegou a escuridão,
A treva da noite escura
Está cheia de papão
No teu sono terás beijos
Da rosa e do bugari
E os espíritos benfazejos
Te defendem do saci
Da rosa e do bugari
E os espíritos benfazejos
Te defendem do saci
Dorme, dorme, meu menino,
Já chegou a escuridão
A treva da noite escura
Está cheia de papão
Já chegou a escuridão
A treva da noite escura
Está cheia de papão
Dorme teu sono inocente
Com Jesus e com Maria,
Até chegar novamente
O clarão do novo dia
Com Jesus e com Maria,
Até chegar novamente
O clarão do novo dia
Iscutando com respeito
Estes verso pequenino,
Eu sintia no meu peito
Tudo quanto era divino;
Nem tuada sertaneja,
Nem os bendito da igreja,
Nem os toque de retreta,
In mim ficaro gravado,
Como estes versos cantado
Por minha boa Mãe Preta
Estes verso pequenino,
Eu sintia no meu peito
Tudo quanto era divino;
Nem tuada sertaneja,
Nem os bendito da igreja,
Nem os toque de retreta,
In mim ficaro gravado,
Como estes versos cantado
Por minha boa Mãe Preta
Mas porém, eu bem menino,
Qui nem sabia pecá,
Os ispinho do destino
Começaro a me furá.
Mãe Preta qui era contente,
tava um dia deferente.
Preguntei o que ela tinha
E assim que ela oiô pra eu
Dois pingo d'água desceu
Dos óio da coitadinha
Qui nem sabia pecá,
Os ispinho do destino
Começaro a me furá.
Mãe Preta qui era contente,
tava um dia deferente.
Preguntei o que ela tinha
E assim que ela oiô pra eu
Dois pingo d'água desceu
Dos óio da coitadinha
Daquele dia pra cá,
Minha amorosa Mãe Preta,
Não pôde mais me ajudá
Nas pega de barbuleta,
Sem prazê, sem alegria
Dentro de um quarto vivia,
O dia e a noite intêra,
Sem achá consolação,
Inriba de seu croxão
De foia de bananera
Minha amorosa Mãe Preta,
Não pôde mais me ajudá
Nas pega de barbuleta,
Sem prazê, sem alegria
Dentro de um quarto vivia,
O dia e a noite intêra,
Sem achá consolação,
Inriba de seu croxão
De foia de bananera
Quando ela pra mim oiava,
Como quem sente um desgosto,
A minha mão apertava
E o pranto banhava o rosto.
Divido este sofrimento,
Naquele seu aposento,
No quarto onde ela viva,
Me improibiro de entrá,
Promode não magoá
As dô que a pobe sintia
Como quem sente um desgosto,
A minha mão apertava
E o pranto banhava o rosto.
Divido este sofrimento,
Naquele seu aposento,
No quarto onde ela viva,
Me improibiro de entrá,
Promode não magoá
As dô que a pobe sintia
Eu mesmo dizê não sei
Qual foi a surpresa minha,
Quando um dia eu acordei,
Bem cedo domenhãzinha
Entrei na sala e dei fé
Qui um magote de muié
Tava rezando oração;
E vi Mãe Preta vestida
Numa ropona comprida,
Arva, da cô de argodão
Qual foi a surpresa minha,
Quando um dia eu acordei,
Bem cedo domenhãzinha
Entrei na sala e dei fé
Qui um magote de muié
Tava rezando oração;
E vi Mãe Preta vestida
Numa ropona comprida,
Arva, da cô de argodão
Sinti no peito um cansaço,
Depois uns home chegaro
Levantaro ela nos braço
E numa rede botaro.
A rede tava amarrada
Numa peça perparada
De madêra bem polida,
E naquela mesma hora,
Levaro de estrada afora
Minha Mãe Preta querida
Depois uns home chegaro
Levantaro ela nos braço
E numa rede botaro.
A rede tava amarrada
Numa peça perparada
De madêra bem polida,
E naquela mesma hora,
Levaro de estrada afora
Minha Mãe Preta querida
Mamãe com todo carinho,
Chorando um bêjo me deu
E me disse - meu fiinho,
Sua Mãe Preta morreu!
E ôtras coisa me dizendo,
Sinti meu corpo tremendo,
Me jurguei um pobre réu,
Sem consolo e sem prazê,
Com vontade de morrê,
Pra vê Mãe Preta no céu
Chorando um bêjo me deu
E me disse - meu fiinho,
Sua Mãe Preta morreu!
E ôtras coisa me dizendo,
Sinti meu corpo tremendo,
Me jurguei um pobre réu,
Sem consolo e sem prazê,
Com vontade de morrê,
Pra vê Mãe Preta no céu
O coração do inocente,
É como terra estrumada
Que a gente pranta a semente,
E a mesma nasce corada
Lutrida e munto viçosa;
Na nossa infança ditosa,
Quando o amô e a simpatia
Toma conta da criança,
Esta sodosa lembrança
Vai batê na cova fria
É como terra estrumada
Que a gente pranta a semente,
E a mesma nasce corada
Lutrida e munto viçosa;
Na nossa infança ditosa,
Quando o amô e a simpatia
Toma conta da criança,
Esta sodosa lembrança
Vai batê na cova fria
Patativa de Assaré/Antônio Gonçalves da Silva
Tutora Gestar 2011
VOA!!! PAVÃO, VOA!!!!
PAVÃO MISTERIOSO!!!!
O cordel tem dado mostras
De sua versatilidade
Navega na internet
Com a maior tranqüilidade
Escreve em verso o jornal
Cultura imaterial
É tema da atualidade.
Chegando à modernidade,
O cordel virou “global”
Vem de muitos idos tempos,
Na TV é cabedal.
Está presente na tela:
Acompanhe a novela.
Lá tem papel virtual.
Ouvimos muito falar
De um pavão encantado
De um pássaro formoso,
Em um reino afastado
Repleto de peripécia
“Que levantou vôo da Grécia”
De amor acalantado
Foi num antigo reinado
Nos tempos da oralidade
Onde havia uma princesa
Menina de pouca idade
O seu pai muito grosseiro
Trancou-a em cativeiro
Num reino de falsidade
Essa história tem versões
De poeta afamado
José Camelo de Melo
É o mais reivindicado
Pela autoria dos versos
Por motivos adversos
Foi por outro aclamado.
Esse outro poeta foi
O Melquíades Ferreira
Que vendeu muito folheto.
João Camelo, na carreira
Desgostoso e bem zangado
Rasgou os versos guardados,
Que não venderam na feira
Tá chegando o Carnaval:
A temática é cordel.
O Salgueiro homenageia
Nosso vate menestrel
O poeta bem atento,
Acompanha o seguimento
Observando o plantel
Agora vem o Salgueiro
Com o Pavão Misterioso
Trazendo no seu desfile
Também Boi Misterioso
Tem zabumba, tem pandeiro
E tem velho mandingueiro:
Carnaval ambicioso
Pavão Misterioso chega
Na avenida, vem voando
Soltando as suas plumas
A arquibancada gritando:
Voa, voa meu Pavão
Hoje é dia do povão
O Pavão está abafando
(Rosário Pinto)
Carnaval e cordel: isto vai dar samba!
A Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro levará para a avenida a literatura de cordel, como tema de seu samba-enredo. Concordo com o poeta Lobisomem: o fato de uma agremiação de escola de samba, do Rio de Janeiro, escolher com temática a literatura de cordel, é fato ÚNICO. Isto é motivo para comemoração e não para censuras. A literatura de cordel está em seu apogeu, o que faz com que possa ser apropriada por outras corretes da cultura popular e, se ocorre de forma espontânea, melhor. Afinal, a literatura de cordel chega ao palco universal da Marques de Sapucaí. Ao invés de ficarmos nos colocando numa posição defensiva, devemos procurar subsidiar, para que o espetáculo fique ainda mais brilhante.
A verdadeira arte só é arte, quando pode ser referencial para todos, de todas as camadas sociais, culturais, raças, profissões e feitios. Não é à toa que até os dias atuais os grandes escritores do passado permanecem vivos e atuais e, nos tocam, nos referenciam e dizem de nossas emoções e vivências... O momento é de conquista. O samba não precisa obedecer a critérios de composição poética -, afinal, é samba-enredo, com a temática da literatura de cordel, não ela própria. Vamos deixar o cordel embarcar nessa viagem misteriosa da Marques de Sapucaí. Vamos deixá-lo voar e conquistar novos ares e novos palcos... Quem sabe, daí sairá o interesse formador de novos leitores, poetas que possam manter viva essa cultura literária que vem lá de idos tempos - passando de geração em geração e mantendo-se bela, homogênea e transcendente. A nossa literatura não deve ficar presa aos seus criadores, precisar transcender, voar, voar, voar...
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