segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Memorial das Cursistas do Gestar II de Nova Alvorada do Sul MS

                         MEMORIAL SOBRE MINHA VIDA...

 

 Minha história de vida começa segundo minha mãe e alguns documentos que provam minha existência que nasci em 1979, 11 de Agosto numa noite de ventos fortes. Sou a penúltima de 11 irmãos. Morávamos em um sítio no interior do Paraguai, tínhamos uma grande casa de madeira com um enorme quintal cheio de frutas e flores vermelhas (preferidas de minha mãe). Quase todos os meus irmãos foram  registrados neste país e chegaram a frequentar uma antiga e velha escola, porém de muitas histórias tristes e assustadoras.
Meus irmãos mais velhos estudavam junto com alguns (também imigrantes) alemães que os desprezavam por serem negros e pobres. Apelidavam os imigrantes brasileiros de macacos , a professora paraguaia nada fazia, parecia não ligar para crianças brasileiras. Eu ficava apavorada quando minha mãe falava que estava chegando a minha hora de entrar para a escola... Meu pai dizia que era coisa de criança e não tomava nenhuma atitude. Foi aí que meus irmãos um dia se rebelaram e foram “expulsos” da disciplinada escola paraguaia.
 Em 1985 viemos para o Brasil, moramos em um acampamento de sem-terra por três anos, assim que conseguimos um sítio doado pelo governo brasileiro meu pai se desfez de seus bens no Paraguai e investiu o pouco que conseguiu  nesse lugar. Entrei para a escola com sete anos, no começo fiquei com muito medo, mas felizmente nós estávamos no Brasil. Recebi uma cartilha colorida que mesmo sem saber ler direito eu já conseguia contar e recontar todas as histórias da cartilha.
        Minha professora Benedita era delicada, tinha gestos suaves e voz mansa, ela segurava minha mão e deslizava as primeiras as palavras e traços no meu pequeno caderno e foi nesse ambiente que aprendi as primeiras sílabas acompanhadas sempre de desenhos maravilhosos que não saem de minha memória. Assim, cursei todo o primário numa escolinha rural que mais parecia uma grande diversão pra mim.
         Já no Ensino fundamental: nova escola, novos desafios. Estranhei algumas mudanças, porém, foi nesse período que descobri coisas maravilhosas e que realmente eu seria professora. Tudo por causa de uma grande mestra que ensinava de uma forma diferente, criativa e apaixonante. Ela, todos os dias estava com um sorriso no rosto e muitas histórias para contar nas aulas de leitura, também nos incentivava a ler grandes clássicos da literatura. Essa professora fazia questão de respeitar as dificuldades e diferenças de cada aluno, pois mesmo sendo adolescente, eu já conseguia perceber a diferença do “bom professor” e o “professor bonzinho” que durante toda minha vida escolar foi um norteador para um bom aprendizado.
          Hoje, procuro formas diferentes para trabalhar os conteúdos que ministro e sempre tenho a sensação de realização no meu trabalho, pois, acredito que ser professor é ter o dom maravilhoso de fazer a diferença, de fazer o bem nesse mundo tão globalizado, mas sem amor. Como dizia Paulo Freire “Não dá pra falar de Educação sem amor e paixão”.
                                                 Vera Alice Mendes Fernandes

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