quinta-feira, 28 de julho de 2011

                                   O Enigma em Fernando Pessoa



O Enigma em Fernando Pessoa

Se estivesse vivo, o poeta português faria 121 anos
"...Para que fosses nosso, ó mar!.."

"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples. Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus". O autor da estrofe é, simplesmente, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa no século 20, com valor artístico comparado à Camões e Pablo Neruda. Às vésperas do aniversário de seu nascimento, 13 de junho de 1888, a obra deixada pelo poeta da terrinha continua emocionando e inspirando milhares de pessoas em todo o mundo.
A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre as suas obras, poemas, poesias e também sobre sua vida. Pessoa foi o o centro irradiador da heteronímia, auto-denominando o autor um "drama em gente". A história da existência deste poeta foi dedicada a criação em seu estado mais bruto e que, de tanto criar, criou outras vidas através dos seus heterônimos, o que foi a sua principal característica e motivo de interesse pela sua personalidade, aparentemente pacata e reclusa.
Alguns críticos repercutem se Pessoa realmente teria transparecido o seu verdadeiro Eu ou se os pensamentos deixados em inúmeros livros não seriam produtos, entre tantos de sua mente criativa. Ao tratar de temas subjetivos e usar a heteronímia, ele tornou-se enigmático ao extremo. Este fato é o que move grande parte das buscas para estudar a sua obra.
Pessoa fez um análogo à frase de Pompeu que disse que "navegar é preciso; viver não é preciso", Fernando afirmou no poema Navegar é Preciso, que "viver não é necessário; o que é necessário é criar". Outra interpretação comum deste poema diz respeito ao fato de a navegação ter resultado de uma atitude racionalista do mundo ocidental: a navegação exigiria uma precisão que a vida poderia dispensar.
Heteronômios- O nome de batismo Fernando António Nogueira de Seabra Pessoa não foi suficente para extravasar as diversas pessoas dentro de Pessoa. Entre heterônimos, pseudônimos e semi- heterônimos foram 72 nomes. Considera-se que a grande criação estética do poeta foi a invenção heteronímica que atravessa toda a sua obra. Os heterônimos, diferentemente dos pseudônimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Entre os heterônimos, o próprio Fernando Pessoa passou a ser chamado ortônimo, porquanto era a personalidade original.Os três heterônimos mais conhecidos do artista foram Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterônimo de grande importância na obra de Pessoa é Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, importante obra literária do século XX. Usando de personalidades à parte, Pessoa conduziu uma profunda reflexão sobre a relação entre verdade, existência e identidade. Este último fator possui grande notabilidade na famosa misteriosidade do poeta. "Na tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?".
O lado ocultista- "Pensar em Deus é desobedecer a Deus, porque Deus quis que o não conhecêssemos, por isso se nos não mostrou". Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e misticismo, com destaque para a Maçonaria e a Rosa-Cruz, chegando a defender publicamente as organizações de iniciação, no Diário de Lisboa de 4 de fevereiro de 1935, contra ataques por parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se "No Túmulo de Christian Rosenkreutz". O misticismo era tanto que Fernando tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo, ele realizou mais de mil horóscopos.
Morte- A mão que conseguia traduzir como poucos os sentimentos inquietantes mais particulares de cada indivíduo parou seus movimentos em 30 de novembro de 1935. Pessoa morreu de cólica hepática aos 47 anos na mesma cidade onde nasceu. Há registros de que sua última frase escrita foi em inglês: "I know not what tomorrow will bring... " ("Não sei o que o amanhã trará").
Mar Português(Fernando Pessoa)
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.."

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