AS MÃOS DE MEU PAI - Mário Quintana
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram na
nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
que se chama simplesmente vida
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços de
tua cadeira predileta
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas...
essa chama de vida - que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma
.
Gestar II 2011
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