sábado, 23 de abril de 2011

                                Linhas Soltas - Também se aprende a gostar de ler


Não vos venho falar do que eu estou a ler ou li, mas do que os outros lêem.

É vê-los enervados, a barafustarem, a deitarem contas à vida, porque por cada módulo têm de ler um livro, o que, ao final de um ano lectivo, perfaz o número de, pelo menos, quatro livros (ronda as 800/1000 páginas).

Dizem eles que detestam, abominam ler. Que tal coisa nunca lhes fora pedida. Pior, que é um absurdo pedir, para avaliação, que se leia… livros.

Estas são as reacções dos meus alunos, no início de cada ano lectivo, quando lhes digo que um dos parâmetros da avaliação é a leitura recreativa. Explico-lhes que devem pegar num livro à sua escolha e lê-lo. Somente isso, ler! Ler e preencher uma pequena ficha sobre o livro.

Para todos nós, para quem a “tarefa” de ler é um deleite e um momento sublime, será, talvez, difícil de entender a angústia que é para muita gente pegar num livro e lê-lo do início ao fim. Essa é, aliás, a angústia de muitos jovens portugueses a quem, muito raramente, se pede que leiam, por simples prazer.

No início barafustam quanto podem, mas quando chega o final dos módulos, alguns chegam felicíssimos, dizendo: “Stôra, stôra, este livro é tão fixe! Adorei. E agora vou ler este aqui. Veja, veja! Ai, ai… é tão fixe!!!” Solta-se-me uma gargalhada.

Este episódio não é filho único. Repete-se todos os anos. E é um prazer imenso ver que adolescentes de 15, 16, 17 ou 18 anos abrem, muitas vezes, pela primeira vez, um livro (sim, são eles mesmos que mo confessam!). É agradável saber que, apesar de tudo, eles até o fazem, ainda que, inicialmente, por imposição. E é extraordinário, no final, saber que lhes ficou aquele bichinho das letras e das histórias que nos maravilham.

Não me interessa que leiam Homero, Shakespeare, Camões ou Cervantes. A mim, interessa-me que cada um faça o seu percurso individual de leitura. Se é preciso começarem por livros mais infantis, pois bem, que comecem. Mas que comecem, de facto! Se esse momento de encontro com o livro nunca tiver início, dificilmente alguma vez conseguirão ler livros mais volumosos, mais complexos do ponto de vista cognitivo e literário ou mesmo pegar em revistas e jornais e terem o deleite de ler o que se passa à sua volta, de se informarem, de serem cidadãos do Mundo.

Ninguém lerá se não tiver a oportunidade de se confrontar com um livro, um só que seja que lhe encha a alma.

A minha escola não tem biblioteca. Os alunos são de fracos recursos económicos. Não gostam, nem de ler, nem de escrever. Eu empresto livros. Eles pedem-nos emprestados. Eles trocam leituras aprazíveis. É assim que se faz. E não há desculpa para não se ler. Até porque… ler é um prazer. E isso aprende-se… lendo!

                          E você, como aprendeu a gostar de ler?

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